A EMERGÊNCIA DA FONOLOGIA NA FALA TÍPICA E ATÍPICA: O PAPEL DOS TEMPLATES

Autores

DOI:

https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2018.v6i1.145

Palavras-chave:

Templates, Desenvolvimento fonológico, Síndrome de Down

Resumo

Neste estudo, investigamos a manifestação de templates (T.), isto é, padrões fonológicos sistemáticos que carregam informações prosódicas e/ou segmentais e atuam como facilitadores da expansão lexical (VIHMAN; CROFT, 2007), analisando dados de uma criança com desenvolvimento fonológico típico (D.) e outra com desenvolvimento atípico (G.) adquirindo o português brasileiro (PB) da variedade de Vitória da Conquista-BA. Nosso sujeito atípico (G.) apresenta um atraso de linguagem em decorrência da síndrome de Down (SD), alteração genética causada pela presença de um cromossomo extra nas células do indivíduo (KOZMA, 2007; MUSTACCHI, 2009). Para a análise dos dados, assumimos a perspectiva teórica dos Sistemas Adaptativos Complexos (PSAC) (THELEN; SMITH, 1994) e como perspectiva de desenvolvimento fonológico, a Whole-word/Tamplatic phonology (VELLEMAN; VIHMAN, 2002; VIHMAN; CROFT, 2007). Na análise dos templates, consideramos tanto a proposta de Baia (2013) que sugere a contagem de tokens quanto a proposta de Vihman e Croft (2007) que consideram a contagem de types. Para tanto, partimos da hipótese de que independentemente do tipo de contagem considerado, as duas crianças farão uso de templates. Os nossos resultados mostram que a criança com desenvolvimento típico não manifestou nenhum template operante na contagem de tokens, não confirmando parcialmente a nossa hipótese. Na contagem de types, por sua vez, dois templates foram observados, o V e o CV, distribuídos em cinco sessões: 1;5 a 1;9, o que torna nossa hipótese parcialmente verdadeira. A criança com SD, na contagem de tokens, fez uso de quatro diferentes templates: CnasalVbaixa, V, VV e CV, em cinco das dez sessões analisadas, a saber: 1;3, 1;5, 1;11, 2;3 e 2;5. Na análise de types, G. fez uso de quatro templates: CnasalVbaixa, CV, V e VV, em oito sessões: 1;3, 1;5, 1;6, 1;7, 1;11, 2;1, 2;3, 2;5 e 3;4. Além da descoberta de que criança com SD faz uso de templates como estratégia de expansão lexical, nossos resultados mostram que o tipo de dado observado, types ou tokens, é relevante na investigação acerca dos templates no desenvolvimento fonológico.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ABBEDUTO L, WARREN SF, CONNERS FA. Language development in Down syndrome: from the prelinguistic period to the acquisition of literacy. Ment Retard Dev Disabil Res Rev., v. 13, n. 3, p. 247-261, 2007.

ALVES, F. Para entender Síndrome de Down. Rio de Janeiro. 2 ed. WakEd,. 2011.

BAIA, M. F. A. Os templates no desenvolvimento fonológico: o caso do português brasileiro. Tese (Doutorado) -, Univerdade de São Paulo, São Paulo, 2013.

BAIA, M. F. A.; CORREIA, S. A auto-organização na emergência da fonologia: templates na aquisição do português brasileiro e europeu. ReVEL, v. 14, n. 27, p. 53-79, 2016.

BAIA, M.F.A. O papel do balbucio na formação dos templates. Estudos Linguísticos, v. 43, n.2, p. 679-695, 2014.

BARATA, L. F; BRANCO, A. Os distúrbios fonoarticulatórios na síndrome de Down e a intervenção precoce. Ver. CEFAC, v. 12, n. 1, p. 134-139, 2010.

BISSOTO, M. L. Desenvolvimento cognitivo e o processo de aprendizagem do portador de Síndrome de Down: revendo concepções e perspectivas educacionais. Ciências & cognição, v.4, p. 80-88, 2005.

BORGES, E. F. V.; Paiva, V. L. M. O. Por uma abordagem complexa de ensino de línguas. Linguagem & Ensino. v. 14, n. 2, p. 337-56, 2011.

BRANDÃO, L. P. Da pré-linguagem à linguagem. In: CAVALCANTE, M. C. B. et al. (orgs). Multimodalidade em aquisição da linguagem. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2010. P.41-52.

BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes de atenção à pessoa com Síndrome de Down. Brasília, DF, 2012.

BUCKLEY, S. J. Language development in children with down syndrome – reasons for optimism. Down syndrome Research And Practice, v. 1, n. 1, p. 3–9, 1993.

BUCKLEY, S. J.; PRÈVOST, L. P. Speech and langauge therapy for children with Down syndrome. Down Syndrome News Update. Brasília, v.2, n.2, p. 70-76, 2002.

CAZAROTTI, M.; CAMARGO, E. A. A. Análise da narrativa de um sujeito com Síndrome de down em situação dialógica. Rev. Bra., Marília, v.10, n.2, p. 175-182, 2004.

CHAN, S. Complex Adaptative Sistems. Research Seminar in Engineering Systems, p. 1-9, 2001.

CHAPMAN, R. S. Language learning in Down syndrome: The speech and language profile compared to adolescents with cognitive impairment of unknown origin. Down Syndrome: Research and Practice, 10, p. 61–66, 2006.

CHOMSKY, N. Aspects of the Theory of Syntax. Cambridge: MIT Press, 1965.

COSTA, L. T. et al. Síndrome de Down: conceitos, características e perfil epidemiológico. In: COSTA, L. T.; DUARTE, E., GORLA, J. I. (ogs.). Síndrome de Down: crescimento, maturação e atividade física. São Paulo: Phorte, 2017.

DE BOT, K. et al.. Dynamic Systems Theory as a comprehensive theory of seconde language development. In: M. Mayo, M. Gutterrez-Mangado and M. Adrian (eds), Contemporany Approach to second language Acquisition. Amsterdam: Nertherlands Jhon Benjamins, 2013. p. 199-220.

DE BOT, K; LOWIE, W.; VERSPOOR, M. A dynamics theory approach to second language acquisition. Bilinguism: Language and cognition, v. 10, ed. 1, p. 7-21, 2007.

DEA, V. H. S. D.; DUARTE E. (organizadores). Síndrome de Down: informacões, caminhos e histórias de amor. Sao Paulo: Phorte, 2009.

DECASPER, A. J.; SPENCE, M. J. Prenatal maternal speech influences newborns’ perception of speech sounds. ScienceDirect, v. 9, n. 2, p. 133-130, 1986.

DEL RÉ, A; HILÀRIO, R. N.; MOGNO, A. S. Programa CLAN da base CHILDES: normas de transcrição (CHAT) e comandos básicos. In: FERREIRA-GONÇALVES, G.; BRUM-de-PAULA, M.; KESKE-SOARES, M. (orgs.). Estudos em Aquisição Fonológica. Pelotas: Editora e gráfica universitária, 2001.

DOWN. J. L. H. Observations on an Ethnic Classification of Idiots. London Hospital Reports, 3, p. 259-262, p. 1866.

FERREIRA, A. B. H. Minidicionário Escolar Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001.

GERKEN, L. Phonological perception. Language development. Arizona: plural Publishing, 2009.

KENT, R. D.; VORPERIAN, H. K. Speech impairment in Down syndrome: A review. Journal of Speech Language and Hearing Research, v. 56, n. 1, p. 178–210, 2013.

KOZMA, C. O que é a síndrome de Down? In: STRAY-GUNDERSEN K. Crianças com síndrome de Down: guia para pais e educadores. Porto Alegre: Artmed, p.16-17, 2007. P. 16-42

KUHL, P. et al. Língua, cultura, mente, cérebro: progresso nas fronteiras entre disciplinas. São Paulo: Paulistana Editora, 2006.

KUMIN, L. et al.. A longitudinal study of the emergence of phonemes in children with Down syndrome. Journal of Communication Disorders, p. 293-303, 1994.

LARSEN-FREEMAN, D. Chaos/complexity Science and Second I Acquisition. Applied Linguistics, 18, p. 141-165, 1997.

LEVIN, J.; FOX, J. A. Estatística para Ciências Humanas. São Paulo: Pearson, 2004.

MAMPE, B. et al. Newborns’ cry melody is shaped by their native language. Current Biology, 19, p.1994–97, 2009.

MANSUR, L. L.; RADANOVIC, M. Neurolinguística: princípios para a prática clínica. São Paulo: EI – Edições inteligentes, 2004.

MARTIN GE et al. Language characteristics of individuals with Down syndrome. Top Lang Disord, v. 29, n. 2, p. 112–132, 2009.

MOON, C.; COOPER, R. P.; FIFER, W. P. Two-day-olds prefer their native language. Infant Behavior and Development, 16, p. 495-500, 1993.

MUNDY, P. et al. (1988). Nonverbal communication skills in Down syndrome children. Child Development, 59, p. 235–249, 1988.

MUSTACCHI, Z. (org). Guia do bebê com Síndrome de Down. São Paulo: Companhia Editora Nacional: Associação mais 1, 2009.

OLIVEIRA, M. Sobre a produção vocálica na síndrome de down: descrição acústica e inferências articulatórias. Tese (Doutorado) – Unicamp, Campinas (sp), 2011.

OLIVEIRA, M.; PACHECO, V. Sobre síndrome de Down e vida. Tabuleiro de Letras, Bahia, n.4, p. 1-29, 2012.

OLIVEIRA, M.; PACHECO, V.; PEREIRA-SOUZA, L. P. Processos fonológicos na fala de sujeitos com síndrome de Down: uma interpretação via geometria de traços e teoria métrica da sílaba. Cadernos de Estudos Linguísticos (UNICAMP), v. 59, p. 459-478, 2017.

OLIVEIRA, R. A. Complexidade: Conceitos, origens, afiliações e evoluções. In: PAIVA, V. L. M. O; NASCIMENTO, M. (Org.). Sistemas adaptativos complexos: língua(gem) e aprendizagem. Campinas, SP: Pontes Editores, 2011. p. 13-34.

OLIVEIRA-GUIMARÃES, D. Percurso da construção da fonologia pela criança: uma abordagem dinâmica. Tese (Doutorado). Belo Horizonte: UFMG, 2008.

OLLER, D. K. et al. Infant babbling and speech. J. Child Lang. 3, p. 1-11, 1975.

PAIVA, V. L. M. O. Caos, Complexidade e aquisição de segunda língua. In: PAIVA, V.L.M.O.; NASCIMENTO, M. (Org.). Sistemas adaptativos complexos: lingua(gem) e aprendizagem. Belo Horizonte: Faculdade de Letras/FAPEMIG, 2009. p.187-203

PAIVA, V. L. M. O. Modelo fractal de aquisição de línguas. In: BRUNO, F.C. (Org.) Reflexão e Prática em ensino/aprendizagem de língua estrangeira. São Paulo: Editora Clara Luz, 2005. p. 23-36

PAIVA, V. L. O. Linguagem e aquisição de segunda língua na perspectiva dos sistemas complexos. In: BURGO, V.H.; FERREIRA, E.F.; STORTO, L. J. Análise de textos falados e escritos: aplicando teorias. Curitiba: Editora CRV, 2011. p.71-86

PAPP, A. C. C. S.; WERTZNER, H. F. O aspecto familial e o transtorno fonológico. Pró-Fono Revista de Atualização científica, v. 18, n. 2, p. 151-160, 2006.

PERES, D. O. A percepção da emoção na fala por nativos e não nativos. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.

PRATES, L. P. C. S.; MARTINS, V. O. Distúrbios da fala e da linguagem na infância. Revista Médica de Minas gerais, v. 21, n. 4, p. 54-60, 2011.

RONDAL, J. A. Dificultades del lenguaje en el síndrome de Down: Perspectiva a lo largo de la vida y principios de intervención. Revista síndrome de Down, 23, p. 120-128, 2006.

ROTTA, N. T.; OHLWEILER, L., RIESGO, R. S. (orgs.). Transtornos da aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2016.

SILVA, N. L. P.; DESSEN M. A. Síndrome de Down: etiologia, caracterização e impacto na família. Interação em Psicologia, Brasília, v.6, n.2, p. 166-176, 2002.

STOEL-GAMMON C. Down syndrome phonology: developmental patterns and intervention strategies. Downs Syndr Res Pract, 7, p. 93–100, 2001.

TEIXEIRA, E. R. A anormalidade e não-anormalidade na aquisição fonológica. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 30, nº 4, p. 111-126, 1995.

TEIXEIRA, E. R.; DAVIS, B. L. Early Sound Patterns in the Speech of Two Brazilian Portuguese Speakers. Language and Speech, v. 45, n. 2, p. 179-204, 2002.

THELEN, E.; SMITH, L. B. A Dynamic Systems Theories. In: DAMON W.; LERNER, R. M. (eds) Handbook of child psychology, Universidade de Indiana, 2006. P. 258-312

THELEN, E.; SMITH, L. B. Dynamic System: Exploring Paradigms for change. In: A Dynamic Systems Approach to the Development of Cognition and Action. Cambridge, MA: MIT Press, 1994. P. 45-71

TUNES, E.; PIANTINO, D. Cadê a síndrome de Down que estava aqui? O gato gomeu... o programa da Lurdinha. São Paulo, 3ª ed., autores associados, 2006.

VARGAS, D. Z.; MEZZOMO, C. L.; FREITAS, C. R. Atraso de linguagem e desvio fonológico: um continuum ou duas patologias distintas? Ver. CEFAC, v. 17, n. 3, p. 751-758, 2015.

VELLEMAN, S. L; VIHMAN, M. M.. Whole-word phonology and templates: trap, bootstrap, or some of each? Language, Speech, and Hearing Services in Schools, v. 33, p. 9-23, 2002.

VERSPOOR, M., K; LOWIE, W., DIJK. M. V. Variability in Second Language Development From a Dynamic Systems Perspective. The Modern Language Journal, v. 92, ed. 2, p. 214-231, 2008.

VIGÁRIO, M; FROTA, S.; MARTINS, F. A frequência que conta na aquisição da fonologia: types ou tokens? In: XXV Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística..., Porto, p. 749-767, 2010.

VIHMAN, M. M, DEPAOLIS, R. A.; KEREN-PORTINOY, T. A dynamic systems approach to babbling and words. In: Em L, Bavin (ed.), The Cambridge handbook of child language, New York: Cambridge University Press, pp. 163-182, 2009.

VIHMAN, M. M. et al. Late talking toddlers: Relating early phonological development to later language advance. York Papers in Linguistics, p. 47-69, 2013.

VIHMAN, M. M. Phonological templates in early words: A cross-linguistic study. In C. Fougeron & N. Nguyen (eds), Lab Phon 10: Variation, detail and representation. Mouton de Gruyter: New York, pp. 262- 284, 2010.

VIHMAN, M. M. The relationship between perception and production in early phonological development. Proceedings of ICPhS, 99, 1999.

VIHMAN, M. M.; FERGUSON, C.A.; ELBERT, M. Phonological development from babbling to speech: Common tendencies and individual differences. Applied Psycholinguistics, 7, p. 3-40, 1986.

VIHMAN, M. M.; McCUNE, L. “When is a word a word?” Journal of Child Language, 21, p. 517-542, 1994.

VIHMAN, M. M; DEPAOLIS, R. A.; KEREN-PORTNOY, T. Babbling and words: A Dynamic Systems perspective on phonological development. In: BAVIN, E. (ed.), Handbook of child language. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.

VIHMAN, M. Phonological development: the first two years. Oxford: Wiley Blackwell, 2014.

VIHMAN, M.; CROFT, W. Phonological development toward a “radical” templatic phonology. Linguistics. V. 45, n. 4, p. 683-725, 2007.

VIHMAN, M.M. Plonological development: the origins of language in the child. Cambrigde: Blackwell Publishers, 1996.

WERKER, J. F. The contribution of the relation between vocal production and perception to a developing phonological system. Journal of Phonetics, 21, p. 177–180, 1993.

WERKER, J.F; YEUNG H. H. Infant speech perception bootstraps word learning. Trends in Cognitive Sciences, v. 9, n.11, 2005.

WERTZNER, H. F. Transtorno fonológico. In: FERREIRA-GONÇALVES, G.F.; BRUMDE-PAULA, M. R; KESKE-SOARES, M. (orgs.). Estudos em aquisição fonológica. Pelotas: Ed. Da UFPel, 2011.

WERTZNER, H. F.; AMARO, L.; TERAMOTO, S. S. Gravidade do distúrbio fonológico: julgamento perceptivo e porcentagem de consoantes corretas. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, Barueri (SP), v. 17, n. 2, p. 185-194, maio-ago. 2005.

WERTZNER, H. F.; PAGAN, L. O.; GALEA, D. E. S.; PAPP, C. S. Características fonológicas de crianças com transtorno fonológico com e sem histórico de otite média. Rev Soc Bras Fonoaudiol., v. 12, n. 1, p. 41-7, 2007.

Downloads

Publicado

30-12-2018