O GÊNERO DIGITAL SONGFIC EM RELAÇÕES DIALÓGICAS: ENTRE NARRATIVAS DE FÃS E LETRAS DE MÚSICAS
DOI:
https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2024.v12i1.277Palavras-chave:
songfic; intertextualidade; reelaboração de gêneros; dialogismo.Resumo
Nesta pesquisa, objetivamos investigar o gênero digital songfic e, para tal, lançamos mão das seguintes perguntas de pesquisa: De que estratégias intertextuais e hipertextuais os ficwriters se valem para incorporar as letras de músicas nas narrativas de fãs? E, ainda, de que maneira as relações dialógicas são estabelecidas entre as canções e as songfics? O arcabouço teórico adotado advém do Círculo de Bakhtin, operando conceitos de reelaboração, dialogismo e arquitetônica, bem como demais pesquisas na área da Linguística de Texto que se voltam para o hipertexto, a intertextualidade e a multimodalidade. Nossa metodologia, de natureza descritiva qualitativa, consistiu na construção de um banco de dados composto de 6 songfics, publicadas em três plataformas especializadas na propagação desse gênero (Nyah! Fanfiction e Wattpad), utilizando-se capturas de tela e conversão das páginas para o formato PDF. Por conseguinte, devido à extensa dimensão das obras, selecionamos duas narrativas, uma de cada site, para observar pormenorizadamente os fenômenos supracitados. A análise evidenciou que as songfics se baseiam nas letras de músicas usando elementos verbais, imagens e recursos multimodais. Em Cry Baby, cada capítulo remete a uma faixa específica do álbum homônimo, ao passo que, em Medo Bobo, a história gira em torno de uma única trilha musical. Os escritores dialogam não apenas com as canções, mas também com outras obras literárias e videoclipes dos artistas que os inspiram, criando uma complexa rede de referências. Nesse ínterim, observamos que fanfiqueiros(as), ao textualizarem suas vontades e ideias, operam uma série de movimentos intertextuais, multimodais e dialógicos. Esse é um fator potencial na prática discursiva, especialmente no que tange ao posicionamento crítico perante o mundo, às novas práticas de leitura e escrita e, por fim, à construção de uma cultura participativa que vai na contramão de meios de produção hegemônicos e centralizadores.
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