PROCESSOS FONOLÓGICOS NA FALA E NA ESCRITA DE SUJEITOS COM SÍNDROME DE DOWN: UMA INTERPRETAÇÃO VIA GEOMETRIA DE TRAÇOS E TEORIA MÉTRICA DA SÍLABA

Autores

DOI:

https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2017.v5i1.117

Palavras-chave:

Geometria de Traços, Processos fonológicos, Produção Oral e Escrita, Síndrome de Down, Teoria Métrica da Sílaba

Resumo

Entre as várias descrições que a literatura especializada registra sobre as características da pessoa com síndrome de Down (SD), destacam-se o déficit cognitivo, o atraso no desenvolvimento linguístico e a fala um tanto peculiar que apresenta omissões, trocas de segmentos. Na produção oral, essas modificações comprometem o desempenho fonético e podem, em certa medida, comprometer a inteligibilidade da fala dessas pessoas. Considerando a importância desse aspecto para a comunicação e para o processo de alfabetização, foi realizado estudo sobre os processos fonológicos na fala e escrita de pessoas com SD, à luz da Teoria da Geometria de Traços, delineada em Clements e Hume (1995), e da Teoria Métrica da Sílaba, proposta em Selkirk (1982), estabelecendo-se as seguintes hipóteses: a) que as trocas e omissões encontradas na fala configuram processos fonológicos tanto de substituição quanto de estrutura silábica; b) que os processos encontrados na fala se refletem na produção escrita; c) que os modelos teóricos citados podem auxiliar na compreensão de processes fonológicos que eventualmente ocorram na fala e na escrita desses sujeitos. A pesquisa se desenvolveu em duas etapas principais: a primeira consistiu na análise de oitiva e transcrição fonética da produção oral de 13 sujeitos com SD, na faixa etária entre 10 e 30 anos, posterior identificação e catalogação dos processos fonológicos detectados em tais produções e realização da análise acústica de alguns dos processos encontrados, através do software Praat (BOERSMA; WEENINK, 2006); a segunda etapa consistiu na análise da produção escrita de quatro sujeitos com SD em processo de alfabetização. As ocorrências foram identificadas, catalogadas e transcritas. Em seguida, foram confrontados os processos fonológicos encontrados na fala com os que ocorreram na escrita. A análise constatou que: i) na produção oral, há uma tendência à simplificação de segmentos e de estruturas mais complexas, à semelhança do que ocorre durante a aquisição oral mesmo entre indivíduos adultos pesquisados; ii) há indícios de não especificação fonológica do valor de traços na fala de alguns sujeitos; iii) grande parte dos erros encontrados nos escritos analisados são comuns à escrita inicial; iv) processos que ocorrem na fala reaparecem na escrita; e v), apesar de o processo de aprendizagem ocorrer de forma mais demorada, os sujeitos com SD investigados seguem os mesmos passos de aprendizes da escrita de indivíduos sem a síndrome.

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Publicado

30-12-2017