MODELO COGNITIVO IDEALIZADO NA CONSTRUÇÃO DA CATEGORIA “MASCULINIDADE HOMOSSEXUAL” NO APLICATIVO DE RELACIONAMENTO GRINDR

Autores

DOI:

https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2023.v11i1.243

Palavras-chave:

Modelos Cognitivos Idealizados. Masculinidade homossexual. Performatividade de gênero

Resumo

É no âmbito da interface entre a Linguística Cognitiva (LC) e os Estudos de Gênero, especialmente da Teoria Queer, que a proposta deste trabalho se insere. Objetivamos identificar, analisar e discutir o Modelo Cognitivo Idealizado (MCI) de masculinidade veiculado nos discursos verbais e não verbais e analisar perfis de usuários do aplicativo de relacionamento Grindr, voltado para a comunidade gay e queer. Partimos da hipótese de que o modelo prototípico de masculinidade heterossexual é o mais valorizado e procurado pelos usuários. Também construímos uma hipótese secundária, que funciona como um desdobramento da principal, de que haveria duas categorias periféricas: a de contestação   do estereótipo de masculinidade pautada pela heteronorma e os perfis desviantes, que adotariam a subversão de gênero como estratégia de afirmação de masculinidades plurais. A fim de testar e discutir as nossas hipóteses, montamos um banco de dados com 100 perfis públicos de usuários do Grindr na cidade de Vitória da Conquista-BA e, destes, selecionamos 20 perfis para compor o nosso corpus de análise. A coleta dos dados e constituição do corpus foram realizadas com base em uma metodologia de coleta proposta pela Linguística Cultural, a partir da busca por palavras-chave relacionadas ao tema. Na análise e discussão comparativa dos dados, observamos as características verbais e visuais a partir de três eixos: as tags, os emojis e a descrição pessoal aberta.  A afiliação teórica, que fundamentou o nosso trabalho, assim como serviu de subsídio para as nossas análises, está dividida em duas frentes: a primeira abarca teóricos da Linguística Cognitiva que discutem o fenômeno da categorização, sobretudo, as considerações de Lakoff sobre os MCI’s. A segunda frente diz respeito ao estabelecimento de um diálogo entre a LC e a Teoria Queer, em que enfocamos diferentes conceitos estabelecidos por Butler em suas obras, sobretudo o conceito de performatividade de gênero. Os resultados mostram que é possível identificar duas categorias: o centro prototípico, que, tal como formulado em nossa hipótese, é pautado pelo modelo heteronormativo: a masculinidade associa-se à virilidade, à performance sexual do ativo e, além disso, rechaça os afeminados. Quanto às categorias periféricas, foi possível encontrar, apenas, dados mais recorrentes que contestam o modelo estereotipado de masculinidade pautado na heteronorma. Apesar disso, os usuários demonstram tolerância e condescendência com o sigilo, categoria pervasiva em ambas as categorias.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ADAM, D. Berry. From Liberation to Transgression and Beyond: Gay, Lesbian and Queer Studies at the turn of the twenty-first century. In: RICHARDSON, Raiane; SEIDMAN, Steven. Handbook of lesbian and gay studies. London: Sage Publications, 2002.

AUSTIN, J. How to do things with words. Oxford: Claredon Press, 1990 [1962].

BARRETT, Rusty. Is Queer theory important for sociolinguistic theory? In: KIBLER, Kathryn Campbell e col. Language and sexuality contesting meaning in theory and practice. CSLI Publications, 2001. p. 25-40.

BORBA, Rodrigo. Linguística Queer: uma perspectiva pós-identitária para os estudos da linguagem. Revista Entrelinhas, v. 9, n. 1, jan./jun. 2015. Disponível em: https://revistas.unisinos.br/index.php/entrelinhas/article/view/10378. Acesso em: fev. 2020.

BORBA, Rodrigo. A linguagem importa? sobre performance, performatividade e peregrinações conceituais. Cadernos Pagu (UNICAMP. Impresso), v. 43, p. 441-474, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0104-8333201400430441. Acesso em: fev. 2020.

BAYDOUN, Mahamoud. “Não sou nem curto afeminados”: reflexões viadas sobre a masculinidade hegemônica e a efeminofobia no grindr. Orientador: Melissa Andrea Vieira Medeiros. 2017. 195 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, 2017.

BRITO, Leandro Teófilo de. Enunciações de masculinidade em narrativas de jovens atletas: leituras em horizonte queer. Orientador: Mirian Soares Leite. 2018. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2018.

BUTLER, Judith. Performative Acts and Gender Constitution: An Essay on Phenomenology and Feminist Theory, 2004 [1988]. In: BIAL, H., The Performance Studies Reader. Nova York, Routledge, p. 154-166, 2004. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3703381/mod_resource/content/1/Performative%20Acts%20and%20Gender%20Constitution.pdf. Acesso em: jan. 2020.

BUTLER, J. Bodies that matter. On the discursive limits of "sex". Nova York: Routledge, 1993.

BUTLER, JUDITH. Corpos que importam: Os limites discursivos do sexo. 1. ed. São Paulo Crocodilo Edições, 2019 [1993].

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: Feminismo e subversão de identidade. Tradução de Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010 [1990].

CAMERON, Deborah; KULICK, Don. Language and Sexuality. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

CASTILHO, Ataliba T. de. Nova Gramática do Português Brasileiro. São Paulo: Editora Contexto, 2010.

CIENKI, A. Frames, Idealized Cognitive Models, and Domains. In: GEERAETS, D.; CUYCKENS, H. (org.) The Oxford Handbook of Cognitive Linguistics. New York: Oxford University Press, p. 170-187, 2007.

EVANS, Vyvyan. A Glossary of Cognitive Linguistics. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2007.

FERRARI, L. Introdução à Linguística Cognitiva. São Paulo: Editora Contexto, 2011. p. 31-55.

FERRAZ, Cláudia Pereira. A etnografia digital e os fundamentos da antropologia para estudos em redes on-line. Aurora: revista de arte, mídia e política, São Paulo, v. 12, n. 35, p. 46-69, 2019. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/aurora/article/view/44648. Acesso em: 10 jan. 2022.

GEERAERTS, Dirk. Prototypes, stereotypes, and semantic norms. In: KRISTIANSEN, Gitte; DIRVEN, René. Cognitive sociolinguistics: language variation, cultural models, social systems. Mouton de Gruyter, Berlim, 2008. p. 21-40.

HINE, Christine. Virtual ethnography. Londres: SEGE, 2000.

LAKOFF, G. Women, fire, and dangerous things: what categories reveal about the mind. Chicago: The University of Chicago Press, 1987.

LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metaphors We Live By. Chicago: University of Chicago Press, 2003 [1980].

LIMA, G. A. B. Categorização como um processo cognitivo. Ciências & Cognição, Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: http://www.cienciasecognicao.org/revista/index.php/cec/article/view/663/444. Acesso em: 5 mar. 2021.

MELO, Iran Ferreira de. Linguística Queer Que tiro é esse, viado? In: MELO, Iran Ferreira; AZEVEDO, Natanael Duarte de. Corpos dissidentes, corpos resistentes: do caos à lama. Campina Grande: Editora Realize, 2019. Disponível em: https://www.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/65120. Acesso em: 15 jul. 2022.

PADILHA, Vitória Braga; PALMA, Yáskara Arrial. Vivências não-binárias na contemporaneidade: um rompimento com o binarismo de gênero. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL FAZENDO GÊNERO, 11, WOMEN’S WORLDS CONGRESS, 13, 2017, Florianópolis. Anais [...]. Florianópolis, 2017. Disponível em: https://www.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/1499481481_ARQUIVO_FG2017completovifinal.pdf. Acesso em: 10 dez. 2022.

ROSCH, Eleanor. Principies of categorization. ln: ROSCHE, E.; LLOYDB. Cognition and Categorization. Hillsdale, NJ; NY: Lawrence Erlbaum, 1978. p. 27-48.

SALIH, Sara. Judith Butler e a Teoria Queer. 1. ed. 6 reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

SARAIVA, L. A. S., SANTOS, L. T. d., & PEREIRA, J. R. Heteronormatividade, Masculinidade e Preconceito em Aplicativos de Celular: O Caso do Grindr em uma Cidade Brasileira. BBR. Brazilian Business Review, v. 17, n. 1, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.15728/bbr.2020.17.1.6. Acesso em: fevereiro 2020.

SHARIFIAN, Farzad. Cultural Linguistics. In: Chapelle, C. A. (ed.). Encyclopedia of Applied Linguistics, 2012.

SHARIFIAN, Farzad. Cultural Linguistics: cultural conceptualizations and language. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2017.

SHARIFIAN, F. Cultural conceptualisations and language: theoretical framework and applications. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2011.

SILVA, Augusto Soares da. O cognitivo e o social nos estudos linguísticos: inimigos íntimos? Textos Selecionados. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE LINGUÍSTICA, 24, 2009, Lisboa. Anais [...]. Lisboa: APL, 2009. p. 511-525. Disponível em: https://apl.pt/wp-content/uploads/2017/09/35-Silva.pdf. Acesso em: 25 jan. 2022.

TEIXEIRA, Nuno de Sá. Categorização, cognição e o estilo de vida g0y. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, Londrina, v. 10, n. 1, p. 131-152, abr. 2019. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/eip/v10n1/a08.pdf. Acesso em: 5 mar. 2021.

WAKEFORD, Nina. New Technologies and “cyber-queer” research. In: RICHARDSON, Raiane; SEIDMAN, Steven. Handbook of lesbian and gay studies. London: Sage Publications, 2002.

WITTIG, Monique. The Straight Mind and Other Essays. Boston: Beacon Press, 1992 [1978].

Downloads

Publicado

30-12-2023